Jean-Pierre Ryngaert, Léxico da intriga na dramaturgia clássica

Sendo verdade que a especificidade do texto dramático se alterou radicalmente no século XX, ao ponto de ser difícil caracterizá-lo, este léxico da intriga proposto por J.-P. Ryngaert constitui uma ferramenta útil quando se trabalha com dramaturgia clássica.


«LÉXICO DA INTRIGA
- De acordo com os princípios da dramaturgia clássica:

Exposição: Momento em que o dramaturgo fornece as informações necessárias para o entendimento da acção, apresenta as personagens e entra no assunto.
Para os clássicos, a exposição deve «instruir o espectador sobre o assunto e as circunstâncias principais, o lugar da cena e mesmo a hora em que acção principia, nome, estado, carácter e interesses das personagens principais».

: «As causas e os desígnios de uma acção participam na exposição do assunto e ocupam a abertura; não podem deixar de ser seguidos por obstáculos e contrariedades e por consequência formar um nó no centro ou no meio da intriga da peça, e a resolução deste nó é o desfecho ou fim da acção. (Abade Nadal, Observations sur la tragédie ancienne et moderne, citado por Jacques Scherer).

Peripécias: No singular, para Aristóteles, a peripécia é a inversão da situação do herói que conduz ao desenlace, por exemplo, a passagem da felicidade à infelicidade no desenlace trágico.
No plural, as peripécias são «golpes de teatro» ou «mudanças de sorte» que alteram subitamente a situação, surpreendem pela inversão da acção. Sublinham que no interior de uma intriga a situação do herói não pode ser igual.

Desenlace: «Uma inversão das últimas tendências do espectáculo, a derradeira peripécia, e um regresso de acontecimentos que alteram todas as aparências das intrigas.» (Abade d'Aubignac, Pratique du théâtre).
«O desenlace de uma peça de teatro compreende a eliminação do último obstáculo ou da derradeira peripécia e os acontecimentos que daí podem resultar; estes acontecimentos são por vezes designados pelo termo catástrofe.» (Jacques Sherer, La Dramaturgie classique en France.) [...]»


Fonte: Ryngaert, Jean-Pierre. (1992) Introdução à análise do teatro. Porto: Edições Asa.