Zola, O Naturalismo no Teatro

Émile Zola (1840|1904) foi um dos principais defensores do Naturalismo, quer na Literatura quer no Teatro, numa aproximação à vida real do leitor/espectador.
Influenciado pelos avanços da ciência e por correntes como o Positivismo e o Evolucionismo, Zola procura denunciar as injustiças sociais presentes no seu século, procurando explicações no ambiente e contexto histórico em que as personagens estão inseridas, assim como no seu passado.



Em 1924, Émile Zola escreve sobre a necessidade de maior realismo no Teatro:

«Quero falar do movimento naturalista que se aplica, no teatro, somente nos cenários e acessórios. Sabemos que há duas posições totalmente contrárias sobre o assunto: uns querem que mantenhamos a nudez dos cenários clássicos; os outros exigem uma reprodução exacta do meio, por muito complicado que seja. Eu partilho, é claro, a opinião dos últimos.
Como não sentir o interesse que um cenário acrescenta à acção? E como os actores ficam à vontade, como aí vivem plenamente a vida que têm de viver! É a intimidade, um lugar natural e acolhedor. Eu sei que para se gostar é necessário gostar de ver os actores viver a peça e não representar a peça. E nisto se resume uma fórmula totalmente nova. [...]

Vejam como o cenário abstracto do século XVII corresponde à literatura dramática do seu tempo. O meio ambiente ainda não é importante. Dá a ideia que a personagem anda no ar, afastada dos objectos exteriores. Sem influência nenhuma. A personagem mantém-se no estádio de tipo, um simples mecanismo cerebral. O teatro dessa época usa o homem psicológico e ignora o homem fisiológico. Nessas condições, o cenário é inútil. Não importa o lugar onde o drama se desenrola, já que não tem qualquer impacto sobre a personagem. [...] A verdade dos cenários, dos figurinos, foi-se impondo pouco a pouco até na própria escrita dramática. [...]

Mas, no fundo, continuamos a encontrar a tradição de majestade, de representação solene. Alguns actores franceses a representar parecem padres a oficiar. Não conseguem subir a um palco sem se julgarem logo sobre um pedestal para onde toda a terra olha. E assumem poses e saem imediatamente da vida para entrar no ramerame do teatro naqueles seus gestos falsos e forçados que fariam partir de rir [se estivessem] na rua. As entradas em cena são acompanhadas de um bater de calcanhar para anunciar e marcar bem a personagem. Os efeitos são constantes e para além do verosímil, com a única intenção de ocupar toda a cena e puxar os aplausos. Ele são jogos fisionómicos para o público, poses de galã, a coxa esticada, a cabeça de lado, mantida numa posição favorável. Não andam, não falam, não tossem como na vida. Vê-se que estão a representar e que o esforço que fazem é para serem diferentes das pessoas de maneira a espantar os burgueses. [...]

As nossas personagens modernas com individualidade e agindo sob o império de influências do que as rodeia, vivendo a nossa vida no palco, sentam-se e por isso precisam de cadeiras, escrevem, necessitando de mesas, vestem-se, comem, aquecem-se, e por isso precisam de um mobiliário completo. [...] Esta é uma necessidade da nossa fórmula dramática actual.»


Fonte: Vasques, Eugénia. (2011) Antologia de textos sobre Naturalismo. Lisboa: Biblioteca ESTC.